Antes de mais nada, quero parabenizar e agradecer ao Centro de Excelência "Prof. João Costa" por ter criado, por iniciativa do professor Heriberto de Souza, o www.cepjoaocosta.org, site-portal desta Escola, uma oportunidade ímpar de produzimos e publicarmos material não só para nossa comunidade acadêmica, mas para todos quando o visitarem. Fico muito feliz de ter inaugurado minha participação como colunista deste blog, tratando de um assunto que a mim é tão caro: educação.
A ideia deste texto surgiu ainda na sexta feira, dia 20 de setembro, quando eu e o professor Eduardo Conceição Fortaleza, professor de física da casa, participamos de uma ótima palestra ministrada pelo professor doutor, Marco Antônio Moreira, na didática 6 da UFS, às 10:30 da manhã. A palestra fazia parte de um evento maior, o XIII Colóquio Internacional: educação e contemporaneidade. Embora o professor Moreira tenha sua experiência acadêmica voltada para a área de física, suas leituras e reflexões não se limitam a ela, pois tratam de princípios norteadores de uma educação que tem como propósito a formação de um cidadão crítico e atuante.
Tentarei agora, em breves pinceladas, fazer um resumo do que vimos na palestra, destacando passagens que considero cruciais para uma boa reflexão sobre nossa pratica docente, principalmente se compararmos o antes e depois de ingressarmos no Integral. Quero aproveitar o momento para inaugurar também um outro espaço do portal: o fórum. Lá deixarei uma questão clássica relacionada aos temas aqui abordados. .
Embora nos dias de hoje se fale muito em ensino centrado no aluno, em professor mediador, em aprender a aprender, o que se vê ainda, na prática escolar, segundo Moreira é o modelo clássico de ensino, consagrado e aceito sem questionamentos como algo natural por professores, alunos, pais e pela sociedade em geral, "no qual o professor ensina basicamente falando, dizendo aos estudantes o que se supõe que devem saber". Modelo que Don Finkel chama de Modelo da Narrativa.
"Às vezes o professor escreve no quadro partes do próprio livro texto e, ainda assim, os alunos copiam para estudar mais tarde, em geral na noite anterior à prova para não esquecer."
Segundo ele, mesmo quando os professores não se limitam a copiar no quadro o que está no livro texto, fazendo esquemas, resumos e explicando bem o assunto, ou seja, dando boas aulas, de acordo com o modelo clássico, os resultados não são diferentes, pois os alunos copiam tudo para decorar para as avaliações e, posteriormente, esquecer. Contra este modelo Finkel propõe, metaforicamente, que se dê aula com a boca fechada.
Para Moreira a educação contemporânea é, na pratica, ao contrário do que prega, uma educação desatualizada em termos de conteúdo; é uma educação do tipo bancária, ( tenta depositar conhecimento na cabeça do aluno); centrada no docente; não incentiva a aprendizagem significativa; não incorpora as TICs (tecnologia de informação e comunicação) e não utiliza situações que façam sentido para o aluno, pois é focada no treino para testagem. Moreira entende que uma educação de qualidade deve estar voltada para a construção de uma aprendizagem significativa crítica.
Mas o que seria a aprendizagem significativa crítica? Em que ela se diferenciaria do modelo clássico narrativo?
Para Moreira, aprendizagem significativa
"É aquisição de conhecimentos com significado, com compreensão. É saber dizer e saber fazer; é ser capaz de explicar, de descrever, de aplicar conhecimentos, inclusive a situações novas, mas sempre com significado."
Nesse sentido, entende que a interação cognitiva entre conhecimentos novos e prévios é a característica chave da aprendizagem significativa. Em outras palavras, um conhecimento novo só adquiri significado se dialogar com conhecimentos que o aluno já tenha.
"Se tivesse que reduzir toda a psicologia educacional a um só princípio diria o seguinte: de todos os fatores que influem na aprendizagem, o mais importante é o que o aluno já sabe. Averigue-se isso e ensine-se levando-o em consideração." (Ausubel, 1963, 1968, 2000)
Além do conhecimento prévio, Moreira destaca que o querer aprender (intencionalidade) é outra condição para a ocorrência da aprendizagem significativa. O problema , segundo ele, é que o ensino, tradicionalmente mecânico, não desperta essa intenção em aprender.
A aprendizagem significativa requer uma educação dialógica, através da qual os estudantes buscam apropriar-se dos conteúdos, da relação entre eles e do que esta sendo estudado. Requer também que o educando se assuma como sujeito do ato de estudar e adote uma postura crítica e sistemática.
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo” (Paulo Freire, 1987, p. 68)
Segundo Moreira,
"Nesse processo, a pergunta é essencial: perguntar é a própria essência do conhecer. O ato de perguntar está ligado ao ato de existir, de ser, de estudar, de investigar de conhecer."
Citando Paulo Freire, mais uma vez destaca que
"Ensinar exige reflexão sobre a prática: na formação permanente dos professores, um momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática; é pensando criticamente sobre a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática (p.39)."
Para esta palestra, o professor Marco Antônio Moreira utilizou-se de um power point com 107 slides. Foram muitos os assuntos e temas abordados. Neste texto tive o objetivo de compartilhar com vocês alguns pontos que destaquei da apresentação de Moreira que considero cruciais para que possamos potencializar, de forma sistemática, nossa empreitada na construção da escola que desejamos ter. Pretendo em breve abordar em os outros conteúdos que ficaram de fora. Encerro esse pequeno apanhado da palestra destacando os princípios facilitadores para uma aprendizagem significativa crítica:
"Para uma aprendizagem significativa crítica (subversiva) é preciso:
1.Aprender/ensinar perguntas em lugar de respostas. (Princípio da interação social e do questionamento).
2.Aprender a partir de distintos materiais educativos. (Princípio da não centralidade do livro de texto).
3.Aprender que somos perceptores e representadores do mundo. (Princípio do aprendiz como perceptor/representador)
4.Aprender que a linguagem está totalmente envolvida em todas as tentativas humanas de perceber a realidade. (Princípio do conhecimento como linguagem)
5. Aprender que o significado está nas pessoas, não nas palavras. (Princípio da consciência semântica).
6.Aprender que o ser humano aprende corrigindo seus erros. (Princípio da aprendizagem pelo erro).
7.Aprender a desaprender, a não usar conceitos e estratégias irrelevantes para a sobrevivência. (Princípio da desaprendizagem).
8.Aprender que perguntas são instrumentos de percepção e que definições e metáforas são instrumentos para pensar. (Princípio da incerteza do conhecimento).
9.Aprender a partir de diferentes estratégias de ensino. (Princípio da não utilização do quadro de giz . Do abandono da narrativa)."
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