Ontem fui ao lançamento de Livro de Erros (Ed. Iluminuras), da queridíssima Maria Lúcia Dal Farra, mais um de poesia. Foi na Escariz, a da Jorge Amado, aqui em Aracaju, pertinho de casa. Estive lá porque quis revê-la, é claro, mas também porque queria diariar este agorinha, e o fiz estando presente nele e por meio de fotografias. É preciso mesmo, no andar dos dias, registrar o passado para que as gerações vindouras saibam que o futuro é mais do que uma promessa.
Chico Dantas também estava lá, a nos recepcionar, vestido – como sempre – de nobreza e generosidade. Também estavam ali, as minhas memórias (algumas saudosas; outras, nem tanto) encravadas em cada uma das pessoas com quem troquei olhares e leros enquanto aguardava na fila de autógrafos.
A Dal Farra, mês que vem, fará aniversário; é ela, no entanto, quem nos presenteia com seu Erros. Que elegante erro. Parabéns, minha querida amiga. A Maria Lúcia é uma boa companheira, ninguém pode negar.
Alcir Pécora – um de seus ex-alunos, hoje crítico literário e professor livre-docente da Universidade Estadual de Campinas – orelhou a sua obra. Ele diz que, em “Livro de Erros”, o claro enigma da poesia está todo aí; um pouquinho mais adiante, completa: é poesia racional, mas não sem emoção. Das palavras, demanda o escrutínio rigoroso do seu sistema de polinização, incluído cores, espinhos, sem esquecer tumores. (...) A poesia de Maria Lúcia equivoca deliberadamente o erro, que não é apenas falha e engano, mas mudança acertada com a pressa do mundo e as várias vidas que precisam ser vividas. E o Alcir termina a escrita de sua orelha elegantemente afirmando que na poesia investigativa de Maria Lúcia, o amálgama da razão e do afeto vem com o humor: a confissão de mau gosto, a irreverência da frase evasiva, o gosto do excesso e da bizarrice. A inteligência poética se encontra na tradição cômica. É quando a górgona topa com um homem no quarto escuro, e faz picadinho de sua carne paralisada.
Uau! Nada mais a dizer.
Semana que vem, Maria Lúcia e o seu "Erros" estarão em minhas classes, entre meus alunos, porque não sou nem menino nem bobo.
Heriberto de Souza
Aracaju, 21 de agosto de 2024
Lançamento de "Livro de Erros", de Maria Lúcia Dal Farra (fotos: Heriberto de Souza)
Maria Lúcia Dal Farra é paulista de Botucatu. Em sua terra natal, faz parte da Academia Botucatuense de Letras. Há mais de trinta anos morando em Sergipe, hoje é cidadã sergipana.
É mestre e doutora pela Universidade de São Paulo (USP), livre-docente pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professora titular aposentada do Departamento de Letras da Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde já foi pró-reitora. Também lecionou em Berkeley, Califórnia. Fez parte da equipe pioneira do renomado professor e crítico literário Antônio Cândido, fundador do Instituto de Estudos da Linguagem e do Departamento de Teoria Literária da Unicamp. É também autora de O Narrador Ensimesmado, obra que trata da romanesca de Vergílio Ferreira (São Paulo: Ática, 1979), de A Alquimia da Linguagem, acerca da poética de Herberto Helder (Lisboa: INCM, 1986) e de sete livros dedicados à Florbela Espanca publicados em Portugal e no Brasil. São seus também Livro de Auras, 1994, Livro de Possuídos, 2002, Alumbramentos (que lhe deu o importante prêmio Jabuti de Poesia de 2012), Terceto para o fim dos tempos, 2017 e Inquilina do Intervalo, 2005, livro de ficção, todos editados pela editora Iluminuras, além de mais de centena de ensaios e artigos divulgados em periódicos especializados.
Da sua correspondência com Vergílio Ferreira, doou 35 cartas para os reservados da Universidade de Évora, Portugal, e da sua correspondência com Herberto Helder, 52 cartas para os reservados da Universidade da Madeira, também em Portugal. Foi indicada, pela Universidade de Évora, ao Prêmio Vergílio Ferreira em 2016.
Antonio Alcir Bernardez Pécora é um crítico literário brasileiro, professor livre-docente da Universidade Estadual de Campinas. Editou e organizou as obras completas de Hilda Hilst, Roberto Piva e Plínio Marcos. Foi diretor do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp entre os anos de 2007 a 2011. É membro da Academia Ambrosiana de Milão.
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