Nunca gostei do costume de se dar rosas ou bombons às mulheres no dia Internacional da Mulher. Não só por que considero estes presentes como algo estereotipado, como também pelo fato de entender esta data, como um dia de luta e de reflexão pela equidade entre homens e mulheres.
Percebi, já há alguns anos, que comecei a sentir a mesma coisa com relação ao dia dos professores. Afinal, o que temos pra comemorar?
Resolvi então que iria escrever sobre o assunto. Imbuído dessa missão, coloquei o título deste texto no Google, tetando encontrar algo que pudesse me servir de inspiração. Li quatro a cinco matérias, a maioria de professores universitários, mas achei todos muito superficiais e ruins, a exceção de um.
É interesse destacar que o único que trazia algo que pudesse suscitar uma discussão que tivesse a altura do título, não era de um professor, mas de uma blogueira formada em economia.
Logo no começo de seu texto a blogueira faz um interessante paralelo entre a relação dos taxistas com o Urbe e a dos professores atuais com a educação do futuro.
Em seguida afirma que durante os seus 27 anos deve ter tido mais de 250 professores, dos quais, talvez, recordasse de uns 100. Após lembrar de alguns que marcaram sua vida no ensino fundamental e médio,(pelas lições de vida, ou por darem aulas show) e de não entender como conseguia ficar sentada quatro horas consecutivas na universidade ouvindo um único professor, afirma que interrompeu um mestrado por que precisava de tempo pra estudar, o que seria algo, no mínimo, curioso.
Perto da parte final de seu texto, destaca que nos últimos seis meses leu um volume de material que ultrapassaria facilmente 500 horas. Algo que seria bem alto se comparado com as 360 horas do mestrado que abandonou e que teria duração de dois anos.
Tudo isso fruto da educação à distância, a qual considera fantástica, entre outros motivos, porque:
Não tem que esperar 15 minutinhos para os alunos atrasados chegarem à aula;
Não tem intervalo;
Ele permite que uma aula possa ser revista quantas vezes quiser e na hora que bem entender;
Não tem provas, nem trabalhos;
Suas discussões e dúvidas acontecem nas comunidades do Facebook e nos webinários;
Eles permitem que você faça colegas de todas as idades e de todos os lugares do mundo;
Usa um plugin que acelera a velocidade do vídeo (uma aula de 1h pode ser assistida em 20 minutos);
E…. por que NÃO TEM PROFESSORES , mas "MENTORES DIGITAIS", como ela chama os caras atrás das câmeras.
A mesma empolgação que ela manifesta pelo cursos onlines expressa também pelo YouTube e pelo Google.
Diz que usando um bom filtro consegue-se aprender quase tudo tudo, inclusive sem pagar nada e na hora que quiser. Que inclusive já viu ótimos tutoriais feitos por pessoas com menos de 15 anos.
Termina o texto falando dos problemas da educação atual, que foi a mesma dos avós dela, e de inúmeros formas e modelos de educação que estão surgindo, mas que ainda não são reconhecidos como a atual. No entanto, acredita que talvez tudo isso mude nos próximos 5 a 10 anos. Demonstra desejo de que essa mudança seja realizada por professores. De qualquer forma espera que no dia dos professores eles reflitam sobre os seguintes pontos
A não se contentar em dar respostas certas;
A questionar o quanto cada um está inserido em um modelo de educação que limitam suas habilidades de ensinar;
O quanto concordam com o jogo que jogam diariamente;
E, o mais importante, segundo ela: o que cada um está fazendo para revolucionar o modelo educacional do Brasil.
Destes, eu destaco particularmente os dois últimos.
Eu já trabalhei algum tempo como tutor de um curso online pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do RJ e não tenho dúvidas de que o resultado é muito melhor do que o que presencio, no geral, no ensino fundamental, médio e superior.
Nele os alunos aprendiam pesquisando, lendo, refletindo e debatendo sobre questões ao contrário de ficar decorando assuntos para uma prova e logo em seguida os esquecer, sem nunca tê-los compreendidos, ainda que precariamente.
Observo, por outro lado, inúmeras vídeos aulas dos YouTuberes e, comparando-as com as aulas expositivas de professores que realmente se dedicam pra fazer o melhor, penso que não temos a menor chance de competir com eles. Estes caras tem recurso, tempo, equipe de suporte pra fazerem o que fazem. E, o mais importante, os estudantes o procuram quando precisam deles, enquanto que o professor em sala de aula tem que expor sua aula pra quem está a fim e pra quem não está e pra alunos que já podem estar ali sentados por 4 a 8 horas ( no caso do Integral).
Então pra mim está muito claro. Professores como entendemos estão com seus dias contados, assim como os cobradores de ônibus, caixas de supermercado etc. Ou nos reinventamos, ou trabalhamos nossas aulas de uma forma que nenhuma máquina, ou material pré-gravado possa nos substituir à altura, ou seremos, em breve, objeto de museu, como minha antiga máquina de datilografia.
Feliz dia dos Professores!
Ainda que não tenhamos nada pra comemorar espero poder ler ou ouvir isso ainda por muitos e muitos anos. Só depende de nós!!!
Rafael Jesus, educador/professor
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