Antes de começar a escrever – e esta é uma dica importante sobretudo para quem está começando a se aventurar na arte da escrita - é recomendável que o escritor se organize. Todos nós temos ideias maravilhosas sobre o que contar, mas, para que possamos usá-las mais tarde de forma coesa e coerentemente em benefício de nosso texto, é preciso antes coloca-las minimamente organizadas no papel. Assim devemos proceder para evitarmos que aconteçam duas situações indesejáveis, porém bastante corriqueiras entre novos e veteranos escritores:
o esquecimento (traquinices da memória que sempre nos avexa no momento exato em que dela mais precisamos) de partes significativas daquela história que mentalmente construímos;
as falhas de conexão ou de nexo, responsáveis pelos conhecidos buracos da narrativa que prejudicam o fluxo da história e que podem comprometer toda sua estrutura. Tais falhas acontecem em decorrência mesmo de nossa crise de criatividade (em alguns momentos, passageira; noutros, persistente e duradoura) e que poderão ser facilmente corrigidas quando se tem um bom esquema devidamente posto no papel.
A importância de um bom planejamento
Para Randy Ingermanson (PhD em Física Teórica, Universidade da Califórnia, em Berkeley, E.U.A), um bom texto ficcional capaz de nos prender por completo a atenção e de nos impelir a seguir lendo-o compulsivamente não acontece por acaso. Para ele, uma boa ficção é projetada, arquitetada, previamente planejada. Projetar, no entanto, alerta-nos ele, é um trabalho árduo que, para ser bem conduzido, exige de nós muito esforço. É preciso antes encontrar um princípio orientador que garanta a unicidade de todo o projeto.
Por longos anos, Randy Ingermanson trabalhou com arquitetura de software. Entretanto, não foi como arquiteto de softwares nem como professor de Física Teórica (pós-doutorado em Teoria das Supercordas) que passou a ser conhecido mundialmente. Randy é conhecido em todo o mundo como "o cara do floco de neve", por ter criado o método Snowflake de projetar um romance. O método é, na verdade, uma metáfora. Assemelha-se ao processo físico-químico de criação de flocos de neve tal como se dá na natureza.
Sei que, por morarmos em um país tropical, neve não faz parte de nosso cotidiano. A maioria de nós sequer já a viu uma vez na vida. Entretanto, com um pouco de imaginação, fazendo uso de nossos conhecimentos de física e de química, poderemos entender razoavelmente bem esse processo de formação. Se você ainda não o conhece, assista aos seguintes vídeos:
https://www.youtube.com/watch?v=Zj5UKUWvWeQ
A ideia é bastante elementar. Estruturas complexas, como um floco de neve ou um romance, por exemplo, são feitas de partículas simples que, ao agregar novos elementos, passam a compor estruturas mais complexas. Uma vez consolidadas, apesar de se apresentarem de forma aparentemente diversificada, todas essas estruturas possuem uma forma básica que se repetem de maneira padronizada, formando uma unidade de sentido. E é assim mesmo que acontece quando escrevemos um texto, não importando se ele é ficcional, uma carta, um tratado científico ou uma bula de remédio. Tudo presente nele apresenta uma única ideia central (unidade de sentido), que geralmente está expressa em seu título e nos capítulos subsequentes que o compõem (diversidade na unidade).
Em seu site (https://www.advancedfictionwriting.com/), que traz o sugestivo nome de “Escrita Avançada de Ficção”, em inglês, Randy apresenta, em dez passos sucintos, o seu “Método de Floco de Neve para Projetar um Romance”. Eu os transcreverei e comentarei cada um deles aqui, um por semana e em artigos diferentes. Farei dessa atividade um laboratório de escrita com fins de testar o método na Eletiva Se me contar, eu conto! uma disciplina que integra a parte diversificada da grade curricular do Ensino Médio Integral do Centro de Excelência Professor José Carlos de Sousa, um colégio da Zona Sul de Aracaju, Sergipe.
No próximo artigo, abordaremos o primeiro passo do Método Snowflake. Aguardem.
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